sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Indicadores Culturais: o mercado de exibição cinematográfica em Santos no ano de 2006

I - Introdução
As diversas matérias publicadas no jornal A Tribuna revelando questionamentos do público santista sobre a qualidade da programação de nossos cinemas, motivaram-me a fazer uma pesquisa sobre o assunto. O objetivo do trabalho concentrava-se inicialmente em levantar os filmes exibidos na cidade, o sistema de projeção adotado pelos exibidores, a nacionalidade e o ano de produção dos títulos, bem como o tempo que permaneciam em cartaz. Obtidas tais informações, o passo seguinte seria o de pesquisar os filmes exibidos nos cinemas brasileiros para promover a comparação com o mercado santista, observando o que foi exibido e principalmente, o que deixou de ser exibido nas telas santistas. Por fim, a proposta compreendia a contextualização do mercado santista entre os exibidores nacionais com o objetivo de estabelecer parâmetros de comparação com outras cidades de igual ou maior porte.

Para iniciar o estudo do mercado santista adotei como referência as edições diárias do jornal A Tribuna. Já as exibições em território nacional tiveram como fonte a revista o Banco de Dados – Data Base Brasil 2006, software desenvolvido pelo site Filme B, e no caso específico de São Paulo, a revista Veja São Paulo. De posse dessas informações seria necessário sistematizar a pesquisa resolvendo problemas metodológicos que surgiriam no caminho. A pesquisa compreendeu também o circuito alternativo de exibição através do levantamento sobre as atividades promovidas regularmente pelo Cineclube Lanterna Mágica, Sesi, MISS e Cineclube Aliança Francesa, e esporadicamente pela Cinemateca de Santos. O leitor atento poderá ainda observar que embora a referência comparativa de mercados seja o ano de 2006, relaciono os filmes que chegaram aos cinemas santistas no ano de 2007. Enfim, após alguns meses de intenso trabalho conclui a pesquisa que apresento resumidamente a seguir.

II - O cinema em Santos.

Com a inauguração do Espaço Unibanco de Cinema em dezembro de 2006, o mercado santista de cinema passaria a contar com 19 salas de que disponibilizariam um total de 4024 poltronas. A rede Cinemark apresenta-se como o maior exibidor da cidade com 10 salas de projeção e 2.339 poltronas. O tradicional Cine Roxy vem a seguir com 5 salas e 1.305 poltronas, e o Espaço Unibanco de Cinema com 3 salas e 332 poltronas. Acrescenta-se a essas empresas de exibição, o Cine Arte Posto 4 mantido pela Prefeitura Municipal e que possui apenas 48 lugares.

Essas 19 salas realizaram 24.966 sessões exibindo 234 filmes, dos quais 205 estréias, 12 filmes de 2005 que permaneceram em cartaz ou foram reexibidos em 2006, 17 títulos que integraram o Festival Curta Santos e o Ciclo de Humor à Francesa promovido pelo Cine Arte Posto 4 e a Mostra Fellini que marcou a programação inicial do Espaço Unibanco de Cinema. O ano de 2006 marcaria ainda a estréia do cinema digital na cidade com a projeção de “A Odisséia Musical de Gilberto Mendes” nas telas do Cine Roxy.

A rede Cinemark foi responsável pela exibição de 160 filmes distribuídos em 15.112 sessões, respondendo por 60,5% das projeções realizadas na cidade. O Cine Roxy foi o nosso segundo maior exibidor com 8.599 sessões e um montante de 139 filmes, o que significa 34,42% do mercado local. Já o Cine Arte Posto 4 projetou 60 filmes em 1056 sessões, o que corresponde a 4,22%, seguido pelo Espaço Unibanco de Cinema com 10 filmes apresentados em 202 sessões, ou 0,80% do total de projeções das salas santistas.

Em busca de melhores bilheterias, as salas do Cinemark e do Roxy repetiram o mesmo programa cinematográfico nada menos que 129 vezes. Se por um lado o público teve a comodidade para escolher a sala de sua preferência, por outro deixou de ter acesso a um grande número de filmes lançados no mercado nacional. Em contrapartida, o Cine Arte apresentou-se na condição de único exibidor da cidade em 43 filmes. Quanto ao Espaço Unibanco, a exclusividade de exibição esteve presente em apenas 5 filmes.

O Cine Arte Posto 4 também se destacou por privilegiar em sua programação a diversidade de cinematografias do mundo. Com isso, o público santista teve a opção de assistir a filmes franceses, argentinos, iranianos, dinamarqueses e de vários outros países. Em suma, títulos que dificilmente conseguiram espaço para exibição nas salas comerciais da cidade. No que se refere ao cinema brasileiro, incluído o programa do festival Curta Santos, foram exibidos nesta sala 17 filmes, o que vale dizer 28,3% de sua grade de programação.

Quanto ao perfil de programação o Cinemark apresentou 109 produções americanas (68,12%) e 20 filmes brasileiros (12,5%). Por sua vez, as salas do Cine Roxy apresentaram um total de 96 filmes americanos (69,06%) e 13 títulos nacionais (9,35%) entre os quais o lançamento nacional do filme “Cafundó” e a estréia da projeção digital com a exibição do documentário “A Odisséia Musical de Gilberto Mendes”. O Espaço Unibanco projetou um filme de origem espanhola e 4 co-produções diversas entre seus lançamentos.

No computo geral, o cinema americano, entre produções e co-produções, ocupou 67,28% do mercado exibidor santista. O cinema brasileiro teve participação nas telas em 14,74% dos filmes exibidos, considerando nesse percentual o filme “Família Rodante” do diretor argentino Pablo Trapero feito em co-produção com o Brasil e a Espanha. Tendo como maior porta de entrada o Cine Arte Posto 4, o cinema francês é a terceira cinematografia mais exibida na cidade com 10,59% do total de filmes.

Entre os dez filmes de maior permanência nas telas da cidade tivemos a presença de apenas uma produção nacional. O recordista de exibições do ano foi o filme “A Era do Gelo” curiosamente dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, que foi projetado nada menos que 880 vezes nas telas do Cinemark e do Cine Roxy.

III - Dados Comparativos de Programação

O circuito brasileiro de cinema teve um montante de 400 filmes exibidos no ano de 2006, considerando aqui tanto os títulos de lançamentos como os filmes de 2005 que se mantiveram em cartaz até o ano seguinte. Contudo, somente 212 puderam ser apreciados pelo público santista em 2006. Outros 21 filmes chegariam aos nossos cinemas em 2007. Por outro lado, 10 filmes apreciados na cidade em 2005 permaneceram em exibição nos cinemas do país em 2006. Outra observação importante a ser feita é de que 21 títulos chegaram a Santos no formato digital, sendo apenas um deles no ano de 2006, o que denota um crescimento substancial da projeção digitalizada em 2007.

De posse dessas informações, concluímos que 132 filmes projetados nas salas brasileiras em 2006 permanecem inéditos em Santos até final de 2007, sendo 35 deles produções nacionais. Entre os diretores consagrados que não chegaram aos cinemas santistas destacam-se os nomes de Werner Herzog, Wim Wenders, Manoel de Oliveira, Amos Gitai, Ken Loach, Stephen Frears, Jim Jamursh, Gianni Amélio, Roberto Faenza, Samira Malkmalbaf, Costa Gavras e Pedro Almodóvar com seu filme “Que fiz eu para merecer isto?” datado de 1984, lançado em vídeo, mas inédito nos cinemas. Entre os cineastas brasileiros ficaram inéditos Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Eduardo Coutinho, Carlos Reichembach, Sylvio Back e João Batista de Andrade.

IV - Os cinemas santistas no mercado nacional

Segundo informações contidas no Data Base Brasil 2006, Santos ocupa a 15ª posição tanto em número de salas como em bilheteria, tendo o mercado santista arrecadado para seus cofres a quantia de R$ 7.036.499,00. Em público, a cidade fica com a 14ª posição, atraindo para o escurinho do cinema um total de 969.738 espectadores. Já o valor médio de R$ 7,26 por ingresso torna o nosso programa cinematográfico o 13º mais caro do país. Merece destaque também o fato de nossos exibidores venderem 2, 318 ingressos por habitante, o que nos coloca na 3ª posição do ranking nacional. Outro dado curioso é que de acordo com os números do Data Base Brasil e dos números de sessões que pesquisei, a média de público por sessão é de 38,84 pessoas por sessão.

Se considerarmos a relação número de habitantes por sala de cinema, a cidade é a 5ª mais bem equipada do país tendo uma sala de cinema para cada grupo de 22.020 pessoas, ou seja, uma média de 104 habitantes por poltrona disponível. Outra informação relevante é o fato de Santos ter um número de salas superior a 10 estados, ainda que isso seja traduzido em somente 1,118% do total de público presente nos cinemas brasileiros. Em suma, apesar de pequeno, o mercado de exibição santista só é superado por 14 outros municípios brasileiros, todos com população superior a Santos. Nada mal se tivermos como parâmetro o censo populacional do IBGE, que nos situa na 42ª colocação em número de habitantes.

V - Conclusão

Considerando o fato de boa parte dos filmes inéditos em nossa cidade terem um número reduzido de cópias, geralmente insuficientes para atender a demanda do mercado nacional de cinema, as salas santistas deixaram de exibir no biênio 2006/2007, um montante de 132 filmes lançados e exibidos no país em 2006.Seja pelas dificuldades citadas ou mesmo pela baixa rentabilidade de alguns filmes, o Cinemark e o Roxy optaram por grades de programação muito semelhantes, privilegiando a exibição de um mesmo título em suas salas. No caso de filmes com grande apelo de público foram disponibilizadas mais de uma sala por cada um desses exibidores. Nada de surpreendente, já que também se tratam de empreendimentos comerciais com suas despesas correntes e a busca do lucro em seus fins.

Por sua vez, o Cine Arte Posto 4 diferenciou-se por oferecer em sua grade de programação filmes de nacionalidades diversas, geralmente com boas referências da crítica e poucos atrativos comerciais. Como a presente análise é referente ao ano de 2006, o Espaço Unibanco de Cinema teve poucas semanas de funcionamento nesse ano o que torna precipitado qualquer avaliação sobre a programação que oferecerá. Ao público santista resta a expectativa que a entrada desse novo exibidor possibilite uma maior diversidade de títulos exibidos na cidade e diminua a lacuna de filmes inéditos em Santos.

Outro dado que merece observação é a média de 38,84 pessoas por sessão. Teríamos de fato essa elevada média de público por sessão? Ainda que alguns filmes apresentem tenham mais público e permaneçam mais tempo em exibição, parece-me por demais elevado esse número, não sendo essa a realidade que se pode observar indo ao cinema. Para as lamentações dos cinéfilos santistas de que muitos filmes acabam não sendo exibidos na cidade (os chamados filmes de arte), ficam as seguintes perguntas: 1) Teríamos público em quantidade suficiente para pagar os custos decorrentes da vinda desses filmes para a cidade? 2) A qualidade e diversidade da programação veiculada no Cine Arte Posto 4 poderia ser mantida sem os subsídios do poder público municipal? 3) Além do Cineclube Lanterna Mágica que realiza regularmente atividades voltadas para a formação de público, que outras instituições cinematográficas da cidade possuem essa preocupação? 4) Quem poderia capitanear com legitimidade alguns encontros entre exibidores, cinéfilos e poder público para debater esse tão polêmico assunto e estudar possibilidades que viabilizem uma maior diversidade de filmes nas salas santistas?

Enfim, espero poder em breve apresentar a pesquisa referente ao ano de 2007 para saber o que mudou com a entrada das 3 salas do Espaço Unibanco, que índice de crescimento teve o cinema digital na cidade, que filmes foram exibidos e quais ficaram inéditos. Quem tiver interesse, aguarde.

Paulo Renato Alves

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